quarta-feira, 2 de julho de 2008

Inútil

"Oh, vida cruel!" disse, por fim, a pobre figura , desgostosa e angustiada. Não lhe parecia haver alma outra no mundo que não o gato que a observava de uma janela qualquer, mas, ainda assim, teve vergonha. Vergonha de nunca ter se casado, vergonha de nunca ter tido a coragem de dizer a sua mãe o quanto realmente a odiava, vergonha de não ter alimentado seu cão antes de sair para seu último passeio pelas ruas dolorasamente vazias, vergonha por não poder desistir sem que sua infame idéia voltasse a atormentá-la. Teve vergonha, vergonha de ter vergonha, de uma decisão apressada ("Diabos, vamos com isso!"), de uma história ("Minha história? Que história?"); teve vergonha também do arrependimento (aquele que se escondia atrás da máscara do bom senso contrariado, atrás de tudo com o que se quer romper, tudo o que se quer deixar para trás; sim, aquele que a fazia ainda pensar, aquele que a fez romper o silêncio da noite com suas palavras tolas que ninguem mais ouviu, além do gato na janela)?
"Mas que sentido há nisso?" pensou ela, não se atrevendo a proferir as palavras e estragar o final perfeito da sua novela pessoal. Afinal, se não tivesse tantos arrependimentos não teria motivo para estar ali, àquela hora da madrugada, a ponto de sujar a calçada 10 andares abaixo. Se não fossem suas pequenas loucuras, não estaria ali, ao léu, largada à vida e à própria sorte (ou ao próprio azar), prestes a tornar se mais uma mancha no asfalto. Sentiu-se realmente tentada a descer daquele parapeito e pedir desculpas ao probre gato por estragar o clímax da cena, voltar para casa em seu passo lento, tremendo de arrependimento e medo do que quase fizera, arrastando-se pela calçada molhada até a porta do prédio de dois séculos atrás onde morava, entrar em seu apartamento e adormecer no sofá em um misto de êxtase e nojo, nojo do odor daquele lugar odiável, nojo de si mesma, nojo e ódio de sua cabeça fraca e de sua vida inútil.
Pensou bem. Voltar para casa daria muito trabalho.
E se foi.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Confusão?

Confundiram-me.

Primeiro pensei ser brincadeira, mas ao me deparar com tamanha dúvida tive outras perguntas mais. "Conheço-te de algum lugar?" me perguntaram, repondi prontamente "Creio que não.", mas quando colidiu comigo "Pareces me familiar..." fiquei sem resposta.


Pergunta 1:
De onde, diabos, iria eu conhecer aquela pessoa?
Veio-me a resposta. Confundiram-me.


Pergunta 2:
Mas, ainda assim, de onde veio tal familiaridade?
Veio-me a resposta.
"Copiaram-me! Absurdo!
Não se respeitam mais os direitos autorais nesse país?"










"Aos pobres dementes
Que, mesmo ainda em botão,
Por esta vida intermitente
Intermitentemente vão."