domingo, 15 de junho de 2008

Para começar... o horror e o deleite de ser o que sou...

Não, não diria que é tão difícil descrever-me... Um amontoado de carne e ossos? Não, isso é muito genérico... Quem sabe um indivíduo um pouco louco? Sim, essa se aproxima bastante. Mas o interessante é se perguntar o que me levou a tornar-me a pessoa que sou hoje. Não, ninguém nasce já sendo quem é. A vida nos ensina, nossos pais nos ensinam, nossas amizades, nossas paixões nos ensinam, nossas dores, mágoas e ressentimentos também, mas acima de tudo, somos quem somos por causa do tempo. Somente o tempo pode fazer nos enxergar com clareza, se nos empenharmos, é claro, coisas que na inocência da nossa inexperiência são invisíveis aos nossos olhos.
Mas não vim aqui para debater questões filosóficas de grande amplitude, apenas vim descrever o que é ser o que sou. Não é difícil entender... Se tivesse que descrever-me, diria que sou um grande lago, primeiramente, pois se fosse rio não saberia para que lado correr, tamanhas as minhas dúvidas certas vezes. O que define um lago? Águas contidas pela imponência do relevo? Sim, como sentimentos, tão profundamente escondidos, ou, por vezes, esquecidos, que se fundem à paisagem, represados pela relutância de meus lábios, mas tão nítidos ao fundo de meus olhos, apenas janelas para a imensidão (do vazio, será?) que há dentro de mim.
Então quando penso estar em paz, um vento sopra, cai um chuva e as águas transbordam, como lágrimas marcando um rosto infantil, transtornado e confuso, desesperado e furioso. Por quê? Por que não consigo conter a fúria do oceano que se agita dentro de mim? Malditos olhos que me denunciam, abrem as portas para palavras que preferiria não ouvir, e reações que não gostaria de ter. Tão fácil seria se pudesse apenas abrir mão de sentir! Não teria de me preocupar com as complexidades do amor platônico, ou a malícia de um trocar de olhares. Não mais haveria trocas de palavras ríspidas ou gritos de raiva. Não haveria mais a lembrança das brigas ou das dores, mágoas e ressentimentos.
O que restaria então? Apenas um dia-a-dia tedioso, sem felicidade, sem sofrimento, sem vida. Não, prefiro ter minhas memórias, para que um dia possa fazer como tantos outros que se acham importantes e publicar um livro com elas. Prefiro ter minhas dores, para que possa aprender com elas e ser mais forte. Prefiro ter minhas decepções, para que a cada queda eu possa me levantar e saber escolher melhor. Prefiro ter minhas lágrimas para que eu não me esqueça de continuar tentando. Prefiro apenas viver minha vida, aprendendo a cada erro, errando a cada acerto, acertando a cada aprendizado. Não, não me digas que menti quando disse que não era difícil descrever-me. Pode ser difícil compreender-me, mas prometo que é uma jornada inesquecível.

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